O MEU CORPO, ESTE DESEJO, ESTA LEI • GEOFFROY DE LAGASNERIE

O MEU CORPO, ESTE DESEJO, ESTA LEI • Geoffroy de Lagasnerie • 2022 BCF Editores 78 pgs • Nota do autor: “Texto que é uma versão desenvolvida de uma conferência proferida no colóquio “Édouard Louis: Escrever a violência, ocorrido na Cidade Universitária de Paris, a 19 de Junho de 2021, e deve ser lido como tal.” • Capa de Ana Jotta • Tradução de Diogo Paiva • PVP 13€ • Linha de Sombra www.linhadesombra.com • Cinemateca Portuguesa ◼︎

“É impossível não sentir uma espécie de mal-estar quando se constata que esquemas de pensamento contra quais tanta gente de esquerda, ou simplesmente humanistas, se bateram há dezenas de anos ressurgem hoje, especialmente a figura do monstro, do obcecado, do ogre, do perverso... construções simbólicas das relações ontológicas entre uma pessoa e o seu comportamento contra as quais os advogados se mobilizam há décadas perante os tribunais, mesmo em relação aos assassinos de série. A sexualidade é nos dias de hoje um dos únicos domínios que produz lógicas de cancelamento. Devido a denúncias de atitudes ou de comportamentos que por vezes são apenas descritos como desapropriados ou ofensivos, algumas pessoas perdem o seu trabalho e qualquer possibilidade de voltar a ter um emprego no sector cultural – ao passo que a esquerda sempre se bateu por uma ideia de reabilitação. Como explicar, por exemplo, o facto de Adèle Haenel no Médiapart, em 2019, parece inconcebível que Christophe Ruggia, que ela acusava de carícias e de inapropriadas manifestações de desejo, torne a fazer um filme, enquanto, e ainda bem, rappers, cineastas, assaltantes à mão armada ou brigadas vermelhas possam continuar a filmar, a cantar ou a publicar, inclusive quando foram condenados por rapto, sequestro, associação a grupo armado.”

REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA DA SEXUALIDADE, Geoffroy de Lagasnerie