UMA DRAMATURGIA DA VIOLÊNCIA: OS FILMES DE JOÃO CANIJO ∙DANIEL RIBAS
UMA DRAMATURGIA DA VIOLÊNCIA: OS FILMES DE JOÃO CANIJO • Daniel Ribas • 2019 Instituto de História Contemporânea 281 pgs • Prefácio Tiago Baptista • PVP 12€ • Linha de Sombra • Cinemateca Portuguesa.
“O melodrama e o realismo juntam-se, assim, de forma a clarificar o discurso cultural de João Canijo e a sua construção do imaginário nacional das últimas décadas. Por um lado, o realismo pretende dar conta da realidade em lugares periféricos, que está em vias de transformação, e, por outro, desenvolve, através do melodrama, um discurso sobre as mentalidades que permaneceram desde a sua criação no salazarismo e que desembocam na ideia de não-inscrição proposta por José Gil. É, pois, neste contexto, que podemos melhor perceber a ideia de que a obra fílmica de João Canijo convoca um discurso cultural. Este discurso pretende significar que, tal como estas famílias em convulsão, o país também procura um caminho num futuro imprevisível. Ele constata o problema de não-inscrição e de falta de afirmação individual. De certa forma, os filmes aprofundam, no seu discurso cultural, o choque de imaginários propostos pelos pensadores que seguimos no primeiro capítulo, embora dando ênfase ao problema das aparências. Eduardo Lourenço, cujo pensamento é, neste aspeto, percursor, já afirmara: «obscuramente (...), pela primeira vez, Portugal não sabe bem que é. Não sabe bem o que é como destino», e insistindo na «relação irrealista (...) connosco mesmos». Nesse sentido, o imaginário cultural de João Canijo reforça essa ideia de falta de futuro — da existência de um destino possível pelo imaginário — perante a insistência numa mentalidade de não-inscrição, exposta nas sequências de violência ou nos finais dos filmes (onde a aparência volta a ser predominante).”
MELODRAMA E REALISMO NO DISCURSO SOBRE A IDENTIDADE, Daniel Ribas