ZONAS DE BAIXA PRESSÃO ∙ ANTÓNIO GUERREIRO

ZONAS DE BAIXA PRESSÃO • António Guerreiro • 2021 Edições 70 450 pgs • Que Livro(s) Levarei Para Pasárgada? • XXVII edição na Cinemateca • António Guerreiro é o convidado de Janeiro ∙ As escolhas são O LIVRO DAS COMUNIDADES (Relógio d’Água, 1999) de Maria Gabriela Llansol e FINISTERRA (Assírio e Alvim, 2021) de Carlos Oliveira ∙ Sessão dia 30 de Janeiro de 2024, às 18h00 • Com organização de Jorge Portugal, Isabel Franco e Diogo Gonçalves • Livraria Linha de Sombra • www.linhadesombra.com  🚩

“VITALINA VARELA, o filme de Pedro Costa, tem a força grandiosa de elevar a personagem com esse nome à condição de paradigma. Vitalina salta do ecrã e prolonga-se no nosso mundo, como umam sobrevivência dotada de uma existência espectral, na medida que traz consigo, para nos assombrar, uma problemática histórica e cultural, uma zona obscura de conhecimento e uma densidade de afecções que não são facilmente nomeáveis. Ela pertence àquela categoria de personagens tão poderosas que se autonomizaram do autor e da obra que lhes deram vida, tonaram-se trans-históricas e passaram a estar presentes, entre nós, como figuras de invocação. Neste aspecto mais geral e abstracto, Vitalina, a personagem, é da família das grandes heroínas das tragédias gregas, da linhagem de uma Emma Bovary, de um Bloom, de um Monsieur Teste, de um Palomar, para me referir apenas a obras literárias e para sugerir que Vitalina tem tanto de cinematográfico como de literário, é tão «figural» quanto um ser de linguagem (e de silêncio). A Vitalina-personagem coincide com uma pessoa? Que sabemos nós disso? Essa coincidência não precisa de ser atestada para que o filme realize, com rara severidade, a unidade da estética e da ética. Parafraseando Godard: «Juste un film? Non, un film juste.»”

A IMPERDOÁVEL VITALINA, António Guerreiro